terça-feira, 15 de março de 2016

O que se vislumbrou em Aquário - o que se anteviu, no que se acreditou, o que se profetizou, se previu, do que se duvidou e do que se advertiu - em Peixes torna-se manifesto. Aquelas visões solitárias que, apenas há um mês atrás, pertenciam só ao sonhador, irão agora adquirir a forma e a substância do real. Nós fomos criados por nós, e seremos o nosso próprio fim. E depois de Peixes? Saído do útero, o nascimento ensanguentado. Nós não seguimos: não podemos passar de últimos para primeiros. Carneiro não admitirá um ponto de vista colectivo e Touro não abdicará do subjectivo. O código de Gémeos é exclusivo. Caranguejo procura uma origem, Leão, um objectivo, e Virgem, um desígnio; mas estes são projectos empreendidos isoladamente. Só no segundo acto do zodíaco começaremos a mostrar-nos: em Balança, como uma ideia, em Escorpião como uma qualidade, e em Sagitário, como uma voz. Em Capricórnio, adquiriremos memória, e em Aquário, visão; só em Peixes, o último e mais antigo dos signos do zodíaco, adquirimos uma espécie de individualidade, qualquer coisa integral. Mas o símbolo duplo de Peixes, esse útero reflectido do eu e da consciência de si, é um uróboro da mente - simultaneamente a vontade do destino e a vontade decidida pelo destino - e a casa do desfazer do eu é uma prisão construída por prisioneiros, sem ar, sem portas e coberta de cimento a partir de dentro.

Essas alterações caem em cima de nós, irrevogavelmente, como os ponteiros do relógio caem em cima da hora.


In "Os Luminares" (Eleanor Catton)




Foto: chaosophia218.tumblr.com

Sem comentários:

Enviar um comentário